RIO ITAPECURÚ PEDE SOCORRO

UM DE NOSSOS PATRIMÔNIOS PEDE SOCORRO!

No Maranhão, existe um importante rio perene. Trata-se do Rio Itapecuru, o mais importantes de toda a região. Até o inicio do século XX, o rio Itapecuru era a principal via de escoamento da produção regional.
Sua importância a nível estadual era grande devido ao fato de ser o canal de transporte de produtos do interior até a capital. Com a construção da estrada de ferro São Luís x Teresina na década de vinte, paralela ao rio e posteriormente com o asfaltamento da BR-316 na década de sessenta, o rio perdeu esta função.
E os olhos sempre alertas da população e das autoridades também mudaram de rumo e o rio começou a morrer.

A fonte pode secar!

A devastação da bacia do Itapecuru começa na região onde ficam suas nascentes e ganha contorno assustadores em todas as cidades banhadas por ele até Rosário onde encontra o atlântico, onde os esgotos e outras sujeiras são despejadas sem qualquer tratamento.

Outro fator é a poluição e a retirada de areia do rio 

54 municípios que despejam esgoto in natura na via fluvial. Cerca de 40% de São Luís é abastecida de água.

À entrada do município de Itapecuru-Mirim (a 108 km de São Luís), os pescadores José Raimundo Duailibe, 72 anos, e Antônio Nascimento, 52 anos, vêem com pesar o transcurso do tempo. A suas memórias, acorrem imagens quase paradisíacas do que, há poucas décadas, lhes significava o trabalho de pesca ao longo do rio Itapecuru. “Conheço esse rio bem, que nem só um peixe conhece. Era tão rico de pescado, de bicho na margem, que vendo ele assim hoje, tão largado, a gente nem reconhece de outros tempos”, diz o senhor Duailibe, o “Dodó”. “Ele ainda dá peixe. Mas o que ele dá mesmo, hoje, é areia”, afirma em seguida Antônio Nascimento. A contrastar com a leveza das canoas de pesca, grandes máquinas de dragagem de areia instalam-se no meio do Itapecuru, extraindo o mineral que alimentará a construção civil no município e adjacências. Pois é tempo, afinal, de levantar casas. De pesca, nem tanto, ainda mais no período da piracema.
A todo momento, caminhões entram e saem da cidade para recolher a areia extraída por cinco dragas, de cinco diferentes proprietários, todos licenciados, junto à prefeitura de Itapecuru-Mirim e ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), para a atividade de extração do minério. Cada draga, em oito horas diárias de funcionamento, é capaz de extrair 200 metros cúbicos de areia. Para venda, cada metro cúbico custa, em média, R$ 20, preço bem abaixo do de outros municípios. O secretário de Meio Ambiente de Itapecuru-Mirim, Adrio Monroe Gonçalves, garante ser nulo o impacto negativo da dragagem. “A presença da dragagem traz empregos para o município, impostos para a prefeitura e ainda melhora as condições do rio, tirando a areia que fica solta no fundo”, afirma o secretário, lembrando que a liberação de cada licença para extração está condicionada à apresentação de projeto assinado por geólogo da empresa extratora.

Assoreamento do rio Itapecuru

Todavia, Marco Valério Jansen Cutrim, professor do Departamento de Oceanografia e Limnografia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), adverte haver, sim, impactos negativos para o rio Itapecuru. “Retirar a areia do fundo do rio implica a modificação de todo o seu ambiente. O que se está tirando dali são minerais, e já existe toda uma fauna e flora que vive em função dessas condições”, explica o professor. Há que se considerar, ainda segundo Marco Valério, o fato de que o rio Itapecuru alimenta o Sistema Italuís, responsável pelo abastecimento de água em São Luís e outras cidades. “A longo prazo, essas modificações podem influir negativamente na qualidade dessa água captada [pelo Italuís]”, prevê o pesquisador.

Degradação das matas ciliares do rio Itapecuru

A degradação do curso da água e a retirada da cobertura vegetal original (inclusive da mata ciliar, às margens do rio) são apenas dois dos problemas menos visíveis que a dragagem de areia traz ao Itapecuru, ainda que a atividade seja estritamente necessária à construção civil. “Essas máquinas parecem que espantam os peixes”, suspeita o pescador Dodó. Tal pressentimento leva muitos dos pouco mais de dois mil pescadores filiados à Colônia de Pescadores Z-40, de Itapecuru-Mirim, a praticarem a pesca ilegal durante a piracema (1º de dezembro a 30 de março), período de desova dos peixes. “Na piracema, o pescador filiado [à Colônia] recebe quatro salários mínimos para não pescar. Mas como o peixe já é pouco e essa é a época da chuva, justamente quando fica mais fácil pegar o pescado, muitos acabam não respeitando a lei”, reconhece João Damasceno Garcia, coordenador da Z-40.
E, quando não há peixe, há futebol. Pois, antes do início do período chuvoso, uma das margens do rio Itapecuru, em frente à cidade a que deu nome, tomou uma forma profética: totalmente seca, um grupo de jovens fez um campo de futebol sobre o leito do rio. “Agora, porque começou a chover, o rio subiu um pouco e cobriu o campinho dos meninos”, diz Raimundo Pereira, 37 anos, morador da cidade. “É um rio de areia”, acrescenta.

54 cidades jogam esgoto no Itapecuru

  
Sob a ponte de entrada de Itapecuru-Mirim, um casal banha no rio. Mais adiante, na margem, alguns pescadores amadores arriscam jogar uma linha sobre as águas. Tudo calmo, com exceção de uma tubulação que, próxima àquelas pessoas, derrama esgoto sem tratamento algum – dia e noite – diretamente no rio. Itapecuru-Mirim, todavia, é só um dos 54 municípios que despejam esgoto in natura na via fluvial da qual cerca de 40% de São Luís se abastece de água. Daí que os aproximados 25% que sobraram do volume original do Itapecuru estejam seriamente poluídos.

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